quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O MEZ DE OUTUBRO OU DO ROSARIO

O Rosário Mariano, cujo autor é S. Domingos (1206), deve o seu nome ( segundo a opinião de graves investigadores) a uma visão, conhecida já no sec. 13, em que um monje Cisterciense viu as 50 Ave-Marias que elle muitas vezes rezava, reunidas a formar uma grinalda lindissima de rosas, sobre a cabeça da Rainha do céo.

Pois, o rosario reza-se para honrar a Maria, Mãe de Deus, principiando-se pelo Creio em Deus Padre, 1 Padre Nosso, tres Ave-Mar. e 1 Gloria, afim de obter augmento das virtudes da fé, esperança e caridade. Estra introducção porêm, não é necessária. Seguem 15 dezenas ou décadas (,Mysterios') de Ave Marias, precedidas  cada uma de um dos 15 mysterios e de 1 Padre Nosso, e terminadas por 
1 Gloria P.

O valor e a belleza principal do Rosario acha-se nos mysterios que se meditam durante a recitação, no principio ( ou no fim) de cada dezena.
A meditação é indispensavel para ganhar as indulgencias. Estes mysterios dividem-se em 3 grupos: mysterios gososos, dolorosos e gloriosos.

,Terço' ( composto de 5 dezenas) chama-se a terça parte do rosário ( 15 dezenas, ao todo).

Os mysterios são dos mais consoladores da nossa santa religião e lembram-nos a bondade de Deus, afim de termos sempre confiança nelle,- a Paixão de Jesus Christo, afim de conhecermos o seu amor a nós - a sua victoria, afim de vencermos tambem o mundo. Unimol-os às Ave Marias, para nos lembrar que foi por Maria que recebemos estas graças, e que ella nos alcança pela sua bondosa intercessão os fructos delles.

Cada vez que se reza o terço na presença do Ss. Sacramento exposto ou fechado no sacrário ganha-se uma indulgência plenária [com, confiss. 1927.]
Cada um dos mysterios reza-se de modo seguinte:

Considerando o mysterio da (Annunciação, Visitação etc. ) peço-vos, ó Virgem SS. a graça de (ser humilde, ou ser caridoso etc. ).

MYSTERIOS GOSOSOS (Segunda Feira; Quinta Feira)

Considerando o mysterio da:  peço-vos ó Virgem Ss. a graça de:

1. Annunciação,                            ser humilde.
2. Visitação,                                  ser caridoso sem inveja.
3. Nascimento de Jesus                 ser contente com pouco.
4. Presentação no templo,             ser prompto para sacrificios.
5. Invenção no templo,                 ser piedoso.

MYSTERIOS DOLOROSOS (Terça Feira; Sexta Feira).

1. Agonia de Jesus,             arrepender-me dos meus pecados.
2. Flagellação,                               guardar os sentidos.
3. Coroação de espinhos,               evitar juizos descaridosos.
4. Caminho do Calvario,                ser paciente.
5. Crucifixão,                                  perdoar as offensas.

MYSTERIOS GLORIOSOS ( Quarta Feira; Sabb, e domingo).

1. Ressureição,                                 aborrecer a tibieza.
2. Ascensção de Jesus,                     estimar os bens do céo.
3. Vinda do Espírito Santo,              cuidar da minha alma.
4. Assumpção de Maria,         não morrer sem sacramentos.
5. Coroação de Maria,                      vencer as tentações.

Fonte: 

  • Extraído do ORAE - Manual completo de orações i instruções religiosas. 1936. com a ortografia original.


UM ANJO QUE DEUS COLOCOU NA MINHA VIDA

Quando Vítor foi concebido, em meados de agosto de 1999, sua mãe, Fabiana Silva, era uma adolescente de 14 anos, moradora da periferia de Goiânia. Havia concebido o menino em um estupro praticado pelo padrasto. Se o autor do estupro fosse apanhado, sofreria no máximo 10 anos de reclusão (art. 213, CP). E isso só depois de um julgamento com amplo direito de defesa.
Vítor, porém, sem a menor culpa, já estava condenado à morte por causa do crime de seu pai. Em dezembro de 1999, Fabiana estava disposta a abortar Vítor de qualquer jeito. A criança na época já estava com 4 meses e os médicos do Hospital Materno Infantil de Goiânia hesitavam em matá-la. Restava uma última esperança: o Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, na capital paulista, conhecido como Hospital de Jabaquara, que desde 1989, sob o comando do médico Dr. Jorge Andalaft, especializara-se em abortar bebês concebidos em um estupro. Na época, o Hospital fazia em média, um a dois abortos por mês.
Não foi fácil a batalha para salvar a vida de Vítor. Visitamos várias vezes a casa de Fabiana, conversamos com ela e sua mãe Ana Francisca da Silva, exibimos o vídeo “A dura realidade”, mostrando cenas de abortos praticados nos Estados Unidos... No dia 1º de janeiro de 2000, levamos a jovem Alcineide ( 22 anos, vítima de estupro) com seu filho David (12 anos, concebido no estupro) para conversar com Fabiana. As duas conversaram muito, choraram... Alcineide implorou que Fabiana lutasse até o fim pelo seu filho, assim como ela lutara por David.
Ao mesmo tempo que tentávamos convencer Fabiana a assumir com amor a própria maternidade e lhe oferecíamos toda a assistência possível durante a gestação, parto e puerpério, passamos a combater em outra frente: convocamos pessoas do Brasil e do mundo para que suplicassem ao Dr. Jorge Andalaft que poupasse a vida do inocente. Graças a Deus, a mobilização mundial foi surpreendente.
vitor1Quando no dia 4 de janeiro de 2000, às 16 horas, telefonei para o Hospital de Jabaquara, tive a honra de conversar pessoalmente com Dr. Andalaft. Ele se demonstrou extremamente irritado por estar recebendo protestos de todas as partes do mundo e por todos os meios: telefone, fax, correio eletrônico. Informou que recebia em média 30 telefonemas por hora! Indignado, ameaçou processar-me por “invasão de privacidade” (sic!). Perguntei se ele havia recebido ofensas, e ele prontamente respondeu: “Sim. Estão-me chamando de assassino, de aborteiro, dizendo que eu vou matar a criança...”. Nessa hora eu apartei: “O senhor não vai matar a criança? Se não vai, diga-me, que eu espalharei agora mesmo a notícia”. O doutor ficou perturbado e não soube dar resposta. Ele só tinha até o dia seguinte para responder se faria ou não o aborto.
Levado pela emoção, prosseguiu: “Aposto que vocês, que tentam impedir o aborto, depois de seis meses deixarão a menina sozinha, abandonada, sem poder continuar os estudos e convivendo com o fruto de sua violência”. Graças a Deus, Dr. Andalaft foi um péssimo adivinho.
No dia seguinte, 5 de janeiro de 2000, à noite, ele finalmente informou que o Hospital de Jabaquara não iria fazer o aborto em Fabiana. O menino tinha então cerca de 5 meses de vida. No dia 6, Fabiana e sua mãe já haviam desistido totalmente da ideia do aborto. A gravidez transcorreu maravilhosamente bem. Não faltou quem oferecesse toda sorte de assistência a Fabiana e sua mãe, inclusive o pagamento do aluguel de uma nova casa, mais próxima da escola onde a adolescente cursava a 2ª série do ensino médio.
Na segunda-feira, dia 15 de maio de 2000, às 19h 55min, no Hospital Materno Infantil de Goiânia, nasceu Vítor, 52 cm, 3.115 g, de parto normal. Cerca de vinte médicos acompanharam o nascimento do bebê mundialmente famoso.
Para decepção de Dr. Jorge Andalaft, Vítor foi um verdadeiro presente para Fabiana e sua família. Antes decidida a abortá-lo, depois de dá-lo à luz, Fabiana apaixonou-se pelo bebê. No dia 17 de junho de 2000, na Catedral Bom Jesus, Anápolis, Vítor era batizado e Fabiana, com 15 anos, fazia sua Primeira Comunhão.
Os estudos de Fabiana transcorreram normalmente e a situação da família melhorou muito depois que o bebê nasceu. Deus nunca permitiu que lhes faltassem benfeitores, seja para a compra de gêneros alimentícios, seja para o aluguel da casa.

Dezoito anos depois...
Em 24 de outubro de 2018, Fabiana Silva, agora com 34 anos, veio visitar a nova sede do Pró-Vida de Anápolis a fim de manifestar sua gratidão. Na ocasião, aceitou gravar um vídeo cuja transcrição vai a seguir:
Aos quatorze anos de idade eu fui vítima de violência sexual cometida pelo meu padrasto. E em decorrência desse abuso, eu fiquei grávida. E essa gravidez, na época, para mim, foi motivo de muito transtorno. Eu [era] muito jovem, praticamente uma criança... o que é que vinha na minha cabeça? “Quero abortar! Por que eu quero abortar? Eu sou uma criança! Que é que eu vou fazer? Vou colocar mais uma criança no mundo para poder sofrer?” Assim era a maneira como eu pensava.
No decorrer dessa gestação, com a ideia fixa de aborto – queria porque queria fazer –, foi quando eu conheci o Pró-Vida. Ou o Pró-Vida me encontrou [risos], melhor dizendo. Foi tão interessante, porque nos nossos primeiros encontros, eu me lembro que eu [era] muito dura, um coração muito duro, diante de algumas filmagens, vídeos que eles levaram para que eu pudesse ver a maneira como acontecia o aborto. Eu lembro que aquilo eu olhava assim de uma maneira tão indiferente... Só que o tempo foi passando. O tempo foi passando e eles não desistiram de mim.
E hoje assim eu quero dizer que eu sou muito grata. Muito grata ao Pró-Vida, muito grata a quem esteve, com eles, naquele momento [chorando]... porque hoje palavras seriam muito pouco para descrever o que eu sinto. Porque eu desisti da ideia de fazer o aborto, o Vítor nasceu, o Vítor hoje tem dezoito anos de idade... E o primeiro momento, quando eu tive o meu filho nos meus braços... é um amor incondicional, um amor que vem do próprio Deus. Sabe, não tem como explicar. Como eu ouvi – é algo muito lindo, que me marcou muito – que Deus põe anjos nas nossas vidas da maneira mais inesperada. E o Vítor foi um anjo que Deus colocou na minha vida. Sabe, olhar para o meu filho, saber que ele teve a oportunidade de hoje estar aqui, de hoje estar do meu lado, é o meu amigo, é meu companheiro, é um menino lindo, que me dá muito orgulho...
É tão interessante, porque a ideia em si de aborto... Como que eu tive coragem de pensar? A gente se perdoa porque [era] muito criança ainda, mas... aborto não! Aborto, não! Sacrificar uma vida totalmente indefesa, totalmente dependente de você, não tem para onde fugir, não tem para onde escapar... Hoje eu penso assim: seria muita covardia fazer isso... [chorando].
Dezoito anos se passaram. E eu estou aqui, firme e forte, para falar que não! Que eu sou contra o aborto sim! Eu sou a favor da vida! Fui violentada? Fui. Uma criança, aos quatorze anos de idade! Mas eu estou aqui para falar! Foi difícil? Foi. Mas eu venci! Eu continuei meus estudos, eu concluí o ensino médio, eu fiz faculdade. Meu filho serviu de inspiração. Toda vez que eu pensava em desistir de algo, desistir dos meus sonhos, eu olhava para ele e falava: “Nossa! Eu não posso. Eu preciso lutar não só por mim, mas por ele também”. Meu filho era o gás que eu precisava, era a motivação que eu precisava. Sabe, quando eu olhava para ele, então aquilo me dava forças. Não era mais só eu. Tinha alguém ali que dependia de mim também [sorrindo e depois chorando].
 Fabiana, o que você acha de oferecer o aborto para as vítimas de violência sexual?
Eu não concordo. Eu não concordo porque já basta o trauma que a gente passa pela violência física, pela violência psicológica. Tirar, abortar a criança eu acredito que só vai trazer mais transtornos. Falo porque eu vivi. Eu estive lá dentro e convivi com pessoas que fizeram, que consumaram o aborto. De fato, a culpa que a pessoa sente depois, pelo menos das pessoas que eu pude acompanhar, eu pude estar perto... Eu falo porque eu fiquei cinco anos em terapia, participei de grupos e grupos... de pessoas que estavam ali também buscando o mesmo tipo de ajuda [...] Só que o aborto não vai resolver. O aborto não vai resolver. Não quer? Doa! Doa a criança. Coloca à disposição! Hoje a gente tem um serviço social que tem todo o preparo para encaminhar, para poder fazer isso. Ah, mas... matar não! Nós não temos o direito. Nós não temos o direito de ceifar uma vida. A gente até costuma brincar: é fácil para a gente falar, porque a gente já nasceu. É muito fácil. Mas, e aí? Hoje eu vejo grupos militantes de feministas levantando bandeira: “Aborto sim, aborto sim!” ... É fácil falar: a gente já nasceu.

 Anápolis, 12 de novembro de 2018.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz.
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MATRIZ DE SÃO JOSÉ (SÃO JOSÉ DO BARREIRO - SP)












São José do Barreiro nasceu e se desenvolveu ao redor de sua primeira Capela, erigida em louvor e glória de São José.
“As terras foram doadas pelo Coronel João Ferreira de Souza e sua esposa, Maria Rosa de Jesus, aos nove dias do mês de Outubro de 1833, para a edificação de um templo para servir de Matriz, adaptada à população do lugar, para celebrarem-se os ofícios divinos” (Souto: 1959, p. 10)
A finalização e inauguração só se deram em 1881. Na obra de Reynaldo Mais Souto (1959, p. 50), também há uma nota datada de 26 de Julho de 1871 anunciando a celebração de uma das primeiras festas de São José e o nome de quem doou à nossa igreja, a imagem de São José, o Tenente Coronel Miguel da Silva Pereira, avô do Prof. Dr. Miguel Pereira. Ao longo da história da Matriz, muitos “homens de Deus” nela exerceram o sacerdócio, entre eles, o inesquecível “Seu Vigário”, o nosso Benedito Gomes França, que exerceu seu sacerdócio em São José do Barreiro por 63 anos. As portas da Igreja Matriz de São José que se abrem para a Praça Coronel Cunha Lara e para o casario do seu entorno escondem muitas histórias que estão guardadas na memória do povo barreirense: das missas celebradas em latim, com o padre virado para o altar e de costas para os fiéis; do homem que furtou a lágrima de brilhante do rosto de Nossa Senhora e teve sua mão seca dias depois; dos batizados e casamentos; das celebrações de Natal, de Ano Novo, de Páscoa e de Corpus Christi; das festas e procissões; do saudoso Zé Benedito e tantos homens e mulheres que deixaram impresso em nossas lembranças, a presença marcante de suas vidas em nossa igreja. Essas histórias que não foram ainda escritas precisam ser contadas e propagadas. Só assim, faremos jus ao patrimônio material e imaterial que nossos antepassados nos proporcionaram e que temos, por dever e justiça, zelar para presentearmos às futuras gerações que São José do Barreiro abrigará.
FONTE:


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A ARMADURA DA LUZ

Antes de subir aos céus, Jesus disse aos discípulos: “Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (Lc 24,49). E ainda: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8).
Imaginemos que os apóstolos, em vez de perseverarem unânimes, em oração, com “Maria, a mãe de Jesus” (At 1,14), tentassem discutir entre si um plano para evangelizar o mundo. Pareceria talvez imprudente anunciar de uma vez que Cristo ressuscitara. Melhor seria primeiro convencer o povo que Jesus fora inocentemente condenado. Superada esta fase, aí sim poder-se-ia afirmar que ele havia ressuscitado. Somente num terceiro momento, já consolidada a ideia da ressurreição, é que se poderia exortar o povo à conversão e ao Batismo.
Felizmente, porém, os apóstolos não fizeram nenhum sínodo nem consumiram seu tempo em discussões intermináveis sobre estratégias pastorais. Que fizeram? “Todos eles, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus” (At 1,14). O resultado desses nove dias passados em oração unânime, perseverante e com Maria é descrito a seguir:
“Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e pousavam sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimissem” (At 2,1-4).
Impelido pelo Espírito Santo, num único discurso Pedro falou sobre a inocência de Jesus, anunciou a sua ressurreição, exortou o povo à conversão e convidou-o ao Batismo para a remissão dos pecados. E naquele dia cerca de três mil pessoas acolheram a palavra de Pedro e fizeram-se batizar (At 1,41).
Não estava na previsão dos apóstolos que o diácono Estêvão fosse martirizado nem que houvesse uma grande perseguição em Jerusalém. Mas tal perseguição, prevista e permitida por Deus, serviu para que os cristãos se dispersassem pelas regiões da Judeia e Samaria (At 8,1) e fundassem a comunidade de Antioquia (At 11,19). Ninguém podia imaginar que Saulo, cruel perseguidor, que havia concordado com a execução de Estêvão, seria convertido na estrada de Damasco (At 9,3) e fosse trazido de Tarso para Antioquia por Barnabé (At 11,25-26), tornando-se o grande apóstolo Paulo. Mas os apóstolos, em vez de confiarem em suas próprias forças, deixaram-se conduzir pelo Espírito de Deus (Rm 8,14), que “sopra onde quer” (Jo 3,8).
Em sua segunda viagem missionária, Paulo fez um erudito discurso no areópago de Atenas, citando escritores gregos e convidando os atenienses a adorarem o Deus único e a se arrependerem em vista do julgamento que se fará por meio de Jesus, a quem Deus ressuscitou dos mortos. Mas, “ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, alguns começaram a zombar, enquanto outros diziam: ‘A respeito disto vamos ouvir-te outra vez’” (At 17,32). O fracasso da pregação foi quase completo. Somente alguns se converteram, entre os quais Dionísio, o areopagita e Dâmaris (At 17,33). Seria de se esperar que Paulo, tendo partido de Atenas para Corinto (At 18,1), tomasse maior cuidado em falar da ressurreição, tão contrária à mentalidade grega. No entanto, longe de ser mais comedido, Paulo radicalizou o discurso. Aos coríntios ele evitou a “persuasiva linguagem da sabedoria” (1Cor 2,4) que havia usado em Atenas e não quis saber outra coisa “a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2,2). A cruz, mais escandalosa que a ressurreição, estava ausente no discurso de Atenas (At 17,22-31). Em Corinto, ela estará no centro da pregação. Aos coríntios ele anunciará o Evangelho “sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de não tornar vazia a cruz de Cristo” (1Cor 1,17).
Os exemplos acima demonstram a “intrepidez” (At 4,29.31) com que os apóstolos anunciaram a palavra de Deus, sem se intimidarem pelos obstáculos encontrados ou pela aparente impossibilidade de transpô-los.
Infelizmente pude constatar como, no Brasil e no exterior, há defensores da vida tímidos, incapazes de qualquer atitude radical, por medo de alguma reação. Enquanto estive em Roma, percebi que o “Movimento per la vita” não ousava falar em revogar a terrível lei 194 de 1978, que havia introduzido o aborto na Itália. Falava-se apenas em fazer “modificações” na lei para reduzir o número de abortos.
No Brasil, no início deste ano, falou-se em aprovar a PEC 29/2015 (chamada “PEC da vida”) incluindo na Constituição Federal duas exceções para a não punição do aborto. Na reunião da qual participei no gabinete do Senador Eduardo Girão em 28/02/2019, percebi que não se cogitava em extirpar o aborto de nossa legislação. Pretendia-se apenas evitar que o abortismo avançasse.
E quando em 15/05/2019 a deputada Chris Tonietto (PSL/RJ) protocolou, juntamente com o deputado Filipe Barros (PSL/PR), o Projeto de Lei 2893/2019, que revoga o artigo 128 do Código Penal com suas duas hipóteses de não punição do aborto, pude constatar o quanto a jovem parlamentar foi pressionada pelos próprios amigos pró-vida a retirar de pauta sua proposição. Segundo eles, aquele projeto era suicida, o povo não estava preparado para aceitar a punição do aborto sem exceções, seria preciso avançar passo a passo sem queimar etapas etc., etc., etc. Mas Chris Tonietto manteve-se firme. Além disso, em 18/07/2019 apresentou um outro projeto, o PL 4150/2019, que corrige o artigo 2º do Código Civil para estabelecer que “a personalidade civil do ser humano começa desde a sua concepção”.
Entre nós nem todos perceberam que a verdade é nossa arma. O “esplendor da verdade”, na feliz expressão de São João Paulo II, afugenta os fantasmas noturnos do aborto. “Vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12). Não precisamos de dissimulações, subterfúgios e enganos. “Não somos da noite nem das trevas” (1Ts 5,5). Enquanto nossos adversários precisam chamar o aborto de “interrupção da gravidez”, a criança por nascer de “feto” ou “concepto”, para nós basta falarmos a verdade. Enquanto os abortistas precisam fugir das imagens de crianças abortadas e dos testemunhos de mães traumatizadas pelo aborto, nós não temos do que fugir. O pretexto de salvar a vida da gestante cai por si mesmo quando demonstramos a imoralidade e a inutilidade do aborto em tal caso. A ilusão de que o aborto reduziria os traumas do estupro que resultou em gravidez dissolve-se pelo simples testemunho de mulheres que passaram por tal situação. Ocultar a verdade – aquela que deve ser a nossa arma! – por “motivos estratégicos” é indigno da causa pró-vida.
Jesus disse de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). E a nós, que refletimos sua luz, ele disse: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte” (Mt 5,14). E ainda: “Quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,20-21).
Conosco está aquela “Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Grávida, essa Mulher toda luminosa venceu o Dragão que queria devorar seu Filho (Ap 12,4). “Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi guerrear contra o resto dos seus descendentes” (Ap 12,17), que somos nós. Em nossa luta contra o “homicida desde o princípio” e o “pai da mentira” (Jo 8,44), nossa arma não pode ser outra senão a luz da verdade.

Anápolis, 08 de outubro de 2019.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.