domingo, 20 de março de 2011

TEMPO DA QUARESMA

TEMPO DA QUARESMA

1. Significação dêste Tempo. Durante êstes quarenta dias, os Cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Êle para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.
Nos primeiros tempos do Cristianismo, esta idéia fundamental achava sua aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por tôda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se pareparavam para o Batismo. No Sábado santo, mergulhava-se nas fontes batismais, de onde saíam para uma vida nova, como Cristo do túmulo. Por sua vez, os fiéis gravemente culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas (Quarta-feira de cinzas), para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes dois elementos para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos textos sagrados.
2. Nossa Participação neste Tempo. No Ofício das Matinas do I. domingo, lemos o sermão que o Papa S. Leão Magno, no século V. , dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: "Sem dúvida, diz êle, os Cristãos nunca deveriam perder de vista êstes grandes Mistérios....porém esta virtude é de poucos. É preciso contudo que os Cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu êste tempo propício de quarenta dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar e, por meio de boas obras e jejuns, expiassem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam, porém, os nossos jejuns se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do pecado".
Lendo estas palavras, parece-nos assistir a abertura de um retiro.
Com efeito, a Quaresma é o grande retiro anual de tôda a família cristã, sob a direção maternal e segundo o método da santa Igreja.
Êste retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos, associados assim, realmente, à Ressureição do Divino Mestre, e ressurgindo por sua vez a uma vida nova.
As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito do Cristo e unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola.
O jejum é imposto pela santa Igreja a todos os fiéis, depois de 21 anos completos até atingirem 60 anos. Seria engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Cristo e pecar gravemente contra a autoridade de sua Igreja. O prefácio da Quaresma nos descreve os efeitos salutares do jejum, e aquêles que por motivos justos são dêle dispensados, não o estarão do jejum espiritual, isto é, de se privarem festas, teatros, leituras puramente recreativas, etc.
A oração Assim como a palavra jejum abrange tôdas as mortificações corporais, da mesma maneira compreende a palavra oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhimento particular, como seja: a assistência à santa Missa, a Comunhão frequente, a leitura de bons livros, a meditação, especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a via Sacra e a assistência às pregações quaresmais.
A esmola compreende as obras de misericórida para com o próximo. Já no antigo Testamento está dito: "Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros" (Tobias 12,8).
Praticando essas obras, preparavam-se antigamente os catecúmenos para o Batismo que iam receber no sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submeteram a elas com espírito de dor e arrependimento de coração.
Saibamos também nós que aquêle que não faz penitência, perecerá para tôda a eternidade (Lucas 13,3).
Renovemos em nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os textos das Missas, a cada passo, nos exortam a isto.
Convém, entretanto, evitar que a nossa piedade seja excitada por compaixão sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que vamos contemplar, mas é também, e sobretudo, uma vitória, um triunfo. Em verdade assistiremos a uma luta gigantesca do Homem novo; ouviremos os seus gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos; mas isto é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória, um canto de triunfo.
3. Particularidades dêste Tempo. A côr dos paramentos é a violácea. Omite-se completamente o Aleluia, e o Glória só se canta nas festas dos Santos. Os altares são despojados de seus enfeites e o orgão se cala, menos no IV.  domingo. No fim das Missas do Tempo, o Sacerdote diz: Benedicámus Dómino, em vez de: Ite, Missa est, para exortar os fiéis a perseverarem na oração.
Cada dia dêste Tempo tem a sua "estação", com indulgências especiais e uma liturgia própria, cujos Cânticos e Leituras nos incitam à penitência e à conversão, enquanto as Orações imploram para nós o perdão e a graça.
Fonte:
  • Keckeisen, D. Beda.Missal Dominical.5a Edição.Bahia:Oficina Tipográfica do Mosteiro de São Bento,1949.360 páginas.


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