O TEMPO DA QUARESMA
SIGNIFICAÇÃO DÊSTE TEMPO
Durante estes quarenta dias os Cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador a fim de ressuscitarem com Êle para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.
Nos primeiros tempos do Cristianismo esta idéia fundamental achava sua
aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por
tôda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se preparavam para
o Batismo. No Sábado Santo mergulhava-os nas fontes batismais, de onde saíam
para uma vida nova, como o Cristo, do túmulo. Por sua vez os fiéis, gravemente
culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas. (Quarta-feira
de cinzas), para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes
dois elementos, para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos
textos sagrados.
Nossa participação neste Tempo.
No ofício das Matinas do I. domingo, lemos o sermão que o Papa S. Leão Magno,
no século V. dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: “Sem dúvida,
diz êle, os Cristãos nunca deveriam perder de vista estes grandes Mistérios...
porém esta virtude é de poucos. É preciso contudo que os Cristãos sacudam a
poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu este tempo propício de quarenta
dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar, e por meio das boas
obras e jejuns, expiassem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam, porém, os
nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do
pecado”.
Lendo estas palavras, parece-nos assistir à abertura de um retiro. Com efeito,
a Quaresma é o grande retiro anual de toda a família cristã, sob a direção
maternal e segundo o método da Santa Igreja.
Este retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos,
associados assim, realmente, à Ressureição do Divino Mestre, e ressurgindo por
sua vez a uma vida nova.
As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito do Cristo e
unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola.
O jejum é imposto pela santa Igreja a todos os fiéis, depois de 21 anos
completos até atingirem os 60 anos. Seria um engano pernicioso não reconhecer a
utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Cristo e pecar gravemente contra a autoridade
de sua Igreja. O prefácio da Quaresma nos descreve os efeitos salutares do
jejum, e aqueles que por motivos justos são dele dispensados não o estarão do
jejum espiritual, isto é, de se privarem de festas, teatros, leituras puramente
recreativas, etc.
A oração. Assim como a palavra jejum abrange todas as mortificações corporais,
da mesma maneira compreende a palavra
oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhimento
particular, como sejam: a assistência à santa Missa, a Comunhão frequente, a
leitura de bons livros, a meditação especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a
Via Sacra e a assistência às pregações quaresmais.
A esmola compreende as obras de misericórdia para com o próximo. Já no Antigo
Testamento está dito: “Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do
que amontoar tesouros” (Tob. 12, 8).
Praticando essas obras, preparavam-se antigamente os catecúmenos para o Batismo
que iam receber no Sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submeteram
a elas com espírito de dor e arrependimento de coração.
Saibamos também nós que aquêle que não faz penitência perecerá por toda a
eternidade (Luc. 13, 3).
Renovemos em nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os
textos das Missas, a cada passo nos exortam a isto.
Convém entretanto evitar que a nossa piedade seja excitada por compaixão
sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que
vamos contemplar, mas é também, e sobretudo, uma vitória, um triunfo. Em
verdade assistiremos a uma luta gigantesca do homem novo; ouviremos os seus
gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos;
mas isto é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória,
um canto de triunfo.
Particularidades deste tempo. A côr dos
paramentos é a violácea.
Omite-se completamente o Aleluia e o Glória só se canta nas festas
dos Santos. Os altares são despojados dos seus enfeites e o órgão se cala,
menos no IV. Domingo. No fim das Missas do Tempo, o Sacerdote diz: Benedicamus
Domino, em vez de Ite, Missa est, para exortar os fiéis a perseverarem na
oração.
Cada dia deste tempo tem a sua ”estação”, com indulgências especiais e uma
liturgia própria, cujos Cânticos e
Leituras nos incitam à penitência e à conversão, enquanto as orações imploram
para nós o perdão e a graça.
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